2006 - Silva Kamilly
Em 23/12/11 00:05.
| Autor: SILVA, Kamilly Barros de Abreu Título: História, Memória e Literatura em Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos Resumo: Este trabalho visa articular a tríade história/memória/literatura na obra-prima de Graciliano Ramos, Memórias do cárcere, a partir da consideração de que estas instâncias interagem dialeticamente no processo de produção de sentido para a experiência humana. Graciuliano é testemunha do terrorismo de Estado no Brasil dos anos de 1930, período sombrio que traz a marca da modernidade: experiência vivenciada a partir da ruína dos valores que sustentavam uma sociedade confiante na razão, provocada pelos acontecimentos catastróficos dos primeiros anos do século XX, especialmente a eclosão do movimento nazi-fascista. A desestabilidade provocada pela sensibilidade moderna do mundo precisa ser trazida à tona através de uma nova maneira de se escrever história. Uma escrita em que a reflexão sobre o próprio fazer historiográfico tenha lugar e que ponha em questão seu compromisso ético com aquilo que representa. Memória e história aparecem como poderosos constituidores de sentido para a vida em uma época em que é preciso lidar com a falta de sentido de complexas pervivências. A literatura, por sua vez, partilha também desta crise de sentido e reconfigura-se para lidar com ela. O conceito de literatura de testemunho surge como articulador da tríade, exigindo um novo tratamento na consideração das relações entre história e memória e história e literatura. A literatura não pode ser tomada apenas como um reflexo da história. Nessa linguagem revolvida pela modernidade, a realidade não é meramente mimetizada, mas reconfigurada. O contexto de produção da obra de Graciliano é considerado não como determinante da matéria literária, mas como um seu contraponto. Através de seu testemunho, o passado é exposto em sua face fragmentada – através de cacos, ruínas, cicatrizes. Seu testemunho é apresentado como contra-memória. Por um lado, porque é aquilo que justamente resiste à representação – o indizível. Por outro, e novamente aparece a questão de um compromisso ético e político, porque transmite o que a tradição, oficial ou dominante, quer apagar. Nas fissuras da história, muitas vezes não alcançadas pelo historiador, revela-se uma outra memória, capaz de resituar problemas desconhecidos ou considerados como resolvidos. Para dizer de outro modo, a memória pode contribuir para o movimento de auto-reflexão da história. Palavra-chave: Graciliano Ramos, Crítica e interpretação de Memórias do Cárcere,Literatura de testemunho, Literatura brasileira, Preso político, repressão. Orientador: Dr. Noé Freire Sandes/UFG Data da Defesa: 29/05/ 2006
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