De um lado afirma-se que a crise das identidades marca o fim do século XX. De outro, percebe-se o ressurgimento das identidades como princípios essenciais da vida pessoal e da mobilização social na era da globalização. No lugar de identidades estáveis e bem definidas, assiste-se hoje ao surgimento de identidades múltiplas, instáveis e muitas vezes sem referenciais geográficos definidos. A reinvenção das diferenças inerentes à era globalizada se efetua em diversos níveis. Localmente, às vezes se traduz pela exarcebação de particularismos identitários. Surgem então processos identitários marcados por hibridismos nunca totalmente coesos ou uniformes, fragmentados, descontínuos, amálgamas singulares de múltiplos espaços identitários. Há um claro deslocamento das identidades desterritorializadas aos hibridismos da multiterritorialidade. As identidades diaspóricas apresentam-se como espécie de laboratório das experiências sócioespaciais pós-modernas que convivem paralelamente com a fragilização de Estados nacionais, fluidez econômica e o hibridismos culturais. As identidades diaspóricas forjadas no Brasil permitem uma releitura da história social e cultural brasileira. O conceito de diáspora, delicado e escorregadio, busca considerar na análise processualista e situacional, o agency, envolvendo as populações afro-brasileiras e ameríndias. A história dos afrodescendentes e dos indígenas brasileiros, vista nessa perspectiva considera os eventos sociopolíticos, os espaços culturais, as fusões, fissões, os deslocamentos, os territórios de partida e chegada, as variáveis que marcam os sujeitos em ação antes, durante e depois de integrados a um determinado território, permitindo elucidar as condições de como as identidades são apropriadas e reapropriadas pelos grupos que se encontram em condições diaspóricas. As diáspora impostas, resultantes dos processos de colonização e escravização foram, durante muito tempo, vistos como parte de uma só diáspora, a diáspora negra. Mas no Brasil, tal como os negros, os povos indígenas muitas vezes se viram em função da especificidade de suas histórias de contato, em situação diaspórica. Esse é o caso, sem sombra de dúvida dos índios do NE. Desprovidos de direitos e vivendo em situação de Diáspora em sua própria terra, os índios são confinados em Reservas Indígenas, ou são de forma colonialista transformados em sem terras, ou ainda levados a diversas migrações interiores. Alguns migram para as grandes cidades como é o caso dos Pankararu de São Paulo, em uma clara situação de identidade diaspórica. Africanos Retornados, Afrobrasileiros e Ameríndios no Brasil encontram-se em terras ocupadas, moldadas pela máquina colonial que redefiniu seus destinos como escravos, assimilados, colonizados, submetidos, subalternizados, aculturados, aviltados e explorados. O presente curso, pretende portanto abordar essas diferentes Diásporas e os processos identitários daí decorrentes.
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