Tempos da história e dos historiadores (2015/1)

A maioria dos historiadores tende a evocar, até com certa naturalidade, o conceito ou a ideia de tempo em seus esforços por definir a história, qualquer que seja a designação dada a este último termo. Tornou-se um lugar comum dizer que a história tem a ver com o tempo ou que este constitui uma variável constitutiva fundamental daquela. No entanto, a expressiva relevância atribuída ao tempo nas inúmeras definições ou abordagens da história contrasta com a escassa reflexão teórica dos historiadores sobre o conceito de tempo. Em muitos casos, a prática historiográfica tende a operar apoiada na premissa – embora quase sempre negada – de que a noção de tempo é em si autoevidente, algo dado com um sentido captável direta e imediatamente. Tal problemática se estende aos conceitos mais específicos de “tempo histórico” ou às referências ao(s) “tempo(s) da história”, bem como aos conceitos temporais de passado, presente e futuro. De que exatamente falam os historiadores quando empregam tais conceitos? Este curso pretende oferecer uma reflexão teórica sobre “os tempos da história e dos historiadores”, sobre as especificidades e relações entre, de um lado, os tempos da história como processo objetivo da experiência humana no tempo (história propriamente dita) e, de outro, os tempos da história produzida pelos historiadores como conhecimento subjetivo de tal processo (historiografia), incluindo aqui as formas narrativas-discursivas pelas quais se expressa tal conhecimento. Em tal reflexão, o conceito de “tempo histórico” ocupará um lugar central, ao lado de outros conceitos temporais utilizados de forma mais recorrente pelos historiadores, numa perspectiva que pretende explorar criticamente a dicotomia entre as abordagens objetivistas e subjetivistas do tempo. Serão tomados como referência básica de estudo alguns textos de autores como Fernand Braudel, George Simmel, Cornelius Castoriadis, Reinhart Koselleck, Paul Ricoeur, Krzysztof Pomian, Julio Aróstegui, Antoine Prost, François Hartog, Frank Ankersmit, Guadalupe Valencia García e José Carlos Reis.