Ulisses do Valle
Racionalidade Macunaímica: uma história da sociodicéia da modernização brasileira
Descrição: Trata-se de uma pesquisa que investigará comparativamente as variações dos projetos de modernização da sociedade brasileira desenvolvidos em consonância aos grandes diagnósticos críticos implementados por diversos setores de sua inteligência e das classes intelectuais. Em paralelo à investigação dos projetos de modernização, a pesquisa se concentrará nos padrões de racionalidade subjacente a eles. Para efeito de controle lógico, a pesquisa estabelece o que seria uma tipologia provisória dos discursos historiográficos/sociológicos produzidos em torno do problema da modernização da sociedade brasileira. Divide-se, assim, a historiografia brasileira em duas fases: uma que chamamos de discurso histórico pré-modernista e outra que chamamos de discurso histórico modernista. A primeira fase se distende numa tendência Romântica, cujos maiores expoentes foram Francisco Varhangen e Joaquim Nabuco, e noutra Realista, cujos maiores expoentes foram Euclides da Cunha e Capistrano de Abreu. O discurso histórico modernista, por suz vez, se distende em três tendências: uma culturalista, cuja expressão original e mais coerente ganha forma nas obras de Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda; outra funcionalista, que remete às contribuições de Caio Prado Júnior e Florestan Fernandes; e uma terceira tendência, que chamamos de desenvolvimentista-evolucionista, que se corporifica no espaço institucional do ISEB e dos intelectuais que se agruparam em torno dele. O objeto central da investigação consiste em observar/investigar como o discurso histórico brasileiro teve como ingrediente ativo, embora muitas vezes implícito, a categoria de modernização e como, em função disso, ele variou em torno de uma comparação hierarquicamente enviesada com as sociedades capitalistas industrializadas que sempre foram o arquétipo das utopias modernizadoras.
A modernização brasileira: de suas utopias à sua história
Descrição: Trata-se de uma pesquisa histórico-sociológica cuja abrangência temática se concentra sobre a questão, recorrente nas ciências sociais brasileiras, da modernização do Brasil. O plano inicial do projeto é contemplar três esferas distintas no âmbito das quais o tema "modernização" é posto em evidência: a) a esfera artística, b) a esfera acadêmica, e c) a esfera sócio-cultural. A hipótese básica da pesquisa é que, por um lado, vários segmentos da produção artística brasileira não perderam de vista, desde a semana de 1922, o tema da modernização do Brasil. Por outro lado, a hipótese é que tais manifestações artísticas exerceram, de maneiras que precisam ser averiguadas sócio-historicamente, forte influência no campo acadêmico que tematizou, no período posterior a 1930, os dilemas da modernização brasileira: mais do que um tema comum a ambas as esferas, quer-se averiguar os influxos das relações entre arte e sociedade sobre a teorização produzida sobre a temática da modernização da sociedade brasileira ao longo do século XX. Apesar do tema estar difuso ao longo do século XX, o objetivo é se concentrar na comparação entre dois períodos específicos que demarcam, cada qual, um polo fundamental da história do debate sobre a modernização do Brasil. O primeiro período, assim, se concentra pela década de 20 e 30 do século XX, em que se destacam o Modernismo nas artes e a chamada herança patrimonial-patriarcal nos estudos acadêmicos sobre o processo de modernização do Brasil. O segundo período, por sua vez, se concentra sobre as décadas de 60 e 70 do mesmo século, quando se põe em cena a estética tropicalista, vanguarda artística cujos insights críticos não foram ainda incorporados a uma leitura histórico-sociológica da sociedade brasileira.
Germanismos e antigermanismos em Iberoamérica: um estudo histórico e comparado entre os casos de Argentina, Brasil e México
Esta pesquisa busca elaborar um estudo histórico-comparativo acerca da recepção do pensamento e das letras germânicas na parte da América convencionalmente chamada "Latina" ou "Ibérica". A hipótese básica que orienta tais estudos é de que a tradição alemã de pensamento desempenhou um papel relevante na atuação de intelectuais ibero-americanos em forjar a construção de uma autoimagem nacional. Processo em altíssima medida desencadeado pela autonomia política conquistada pelas então colônias ante suas respectivas metrópoles - Espanha e Portugal (e, em menor medida, França) - essa construção de uma representação do "ser nacional" foi produzida quase sempre a partir de uma interpretação de suas "próprias histórias". Foi especialmente em conexão com este tema que filósofos, cientistas e escritores de língua alemã foram interpretados e mobilizados por intelectuais ibero-americanos. Estes últimos tomando, de maneira mais ou menos explícita, "as ideias" daqueles como modelo que, por contraste positivo ou negativo, ajudavam a revelar os aspectos, senão "essenciais", que aqueles intelectuais consideravam como "autênticos" e "inautênticos", "próprios" e "impróprios" de suas respectivas culturas. A pesquisa buscará rastrear essa presença de germanismos e "antigermanismos" na formação da consciência histórica e nacional das culturas iberoamericanas através dos métodos da História Intelectual Comparada, e pretende estabelecer um quadro comparativo entre os casos de Argentina, México e Brasil. Se concentrará, por isso, no ritmo próprio que esse "embate" comunicativo entre culturas tomou em cada um desses países, mergulhados em circunstâncias que, a despeito de algumas importantes semelhanças, eram radicalmente diferentes entre si. Não se trata de buscar nenhum tipo de paralelismo cronológico dessa recepção, mas sua recorrência temática e as modalidades de suas variações, de suas ênfases, de seus mimetismos e de suas reações em relação à matriz alemã de pensamento.