Memória, Cinema e Gênero: cinematografias brasileiras e argentinas da transição democrática (anos 1970/1980)
Passado um pouco mais de meio século dos estudos precursores de Marc Ferro sobre a relação entre cinema e história, um filme já alçou a possibilidade de se tornar um documento histórico, ao desvelar as apreensões e percepções do momento em que é realizado engendrando-as no tema, nas representações, na linguagem ou na narrativa do artefato. Se historiadores estabelecidos no campo da memória já chamaram atenção para o cinema configurar suporte de memória; estudos recentes demonstram que um filme pode simultaneamente criar ficção e realidades históricas como produzir memória; sustentam que um artefato audiovisual não é apenas um vetor de memória, uma vez que configura,
outrossim, um lugar especial para se sistematizar e delimitar certa memória, evidenciada com o cruzamento indispensável de outras fontes. Abordar a relação entre filmes e memória é adentrar, inevitavelmente, às tensões de memórias diversas. Um filme constitui, pois, memória cultural do período em que é realizado, suscitando discussões quanto aos limites entre a disciplina História e a memória e aos conflitos de memórias. Nesta disciplina, tomando referenciais da História cultural e da História política renovada, aborda-se a relação entre cinema e memória a partir de filmes lançados no Brasil (1974-1989) e na Argentina (1981-1989) – períodos de transição democrática desses países.
Desse modo, certa perspectiva comparativa norteará o curso, guardando, como não poderia deixar de ser, a especificidade histórica de cada país, especialmente relativa ao período destacado. Parte-se de certo repertório fílmico para analisar os discursos sobre o passado encenado nos filmes, à luz da bibliografia do curso. Acrescente-se que, ao considerar que os projetos políticos de Estado compreendem diferentes aspectos, inclusive moral e de costumes,
a categoria gênero perpassará a análise dos filmes, observando as representações e os estereótipos relativos às sexualidades e aos papeis sociais atribuídos às personagens femininas e masculinas.