História da Historiografia como História Intelectual -

A disciplina propõe uma reflexão sobre a ideia de História da Historiografia como uma forma de História Intelectual, tal como proposta por François Hartog, ou seja, em suas palavras, como uma abordagem que busca “construir um objeto tornando-o mais complexo”, uma espécie de “inquietude da história” consigo mesma. Pensada como História Intelectual, a História da Historiografia não se limita ao estudo dos historiadores de formação e de ofício, mas considera também as obras daqueles que Hartog chamou de outsiders da história, “filósofos, intelectuais, escritores que, no geral, foram mais relevantes do que gerações de honestos insiders para os debates e interrogações sobre aquilo que era, não era, poderia ser a história”. Essa reflexão será desenvolvida a partir do estudo de um caso concreto, as contribuições de Gaston Bachelard, Georges Canguilhem e Michel Foucault para a emergência e configuração de uma nova forma de pensar e fazer a História das Ciências. O trio de filósofoshistoriadores franceses costuma ser identificado como a espinha dorsal da “Epistemologia Histórica”, que já foi designada pela historiografia como uma “escola”, uma “tradição” ou ainda, mais recentemente, como um “estilo” historiográfico, e as semelhanças (muitas delas imaginárias) entre suas propostas teórico-metodológicas para a história das ciências já foram explicadas tanto pelos textos quanto pela relação mestre-discípulo e vínculos institucionais. Mas o  que torna o caso Bachelard-Canguilhem-Foucault exemplar para a reflexão sobre o tema geral da disciplina é o fato de que sua história se confunde com a história da constituição de um novo objeto de investigação para os historiadores, as “ciências”, e é parte importante da história da constituição do campo da História das Ciências, que durante muito tempo foi deixado “do lado de fora” dos domínios da História, mas hoje é uma disciplina histórica de plenos direitos, presente nos currículos de alguns dos principais cursos de História do país. Atenta aos conceitos, mas sem ser internalista, e aos contextos, ao mesmo tempo em que rejeita o externalismo, essa História da Historiografia como História Intelectual levanta perguntas como: Quais as transformações necessárias para que a História das Ciências se tornasse uma disciplina de historiadores? Quais concepções de “ciência” difundidas entre os historiadores refrearam ou permitiram a transformação das ciências em um objeto da história? Como explicar a falta de diálogo entre as duas principais tendências historiográficas francesas do século passado, os Annales e a Épistémologie Historique? Quais elementos permitem identificar ou rejeitar a existência de uma filiação real entre Bachelard, Canguilhem e Foucault? Quais as contribuições de Bachelard, Canguilhem e Foucault para os debates sobre a multiplicidade dos tempos históricos? Como se constituiu e quais os traços da “identidade historiadora” desses três filósofos? Pretendemos, assim, que as respostas a esse questionário elaborado a partir de um caso específico possam contribuir para uma reflexão mais ampla sobre as formas de escrita da História da Historiografia. OBSERVAÇÃO: Textos de leitura obrigatória em inglês, espanhol e francês.