CONSTITUIÇÃO DE MEMÓRIAS E RITUAIS FUNERÁRIOS NO MEDITERRÂNEO ROMANO

Tal como compreendemos, a morte é um processo histórico e, em geral, as evidências arqueológicas e a cultura escrita incidem em práticas mortuárias, em ritos, em simbologias, que se transformavam em espetáculos de poder. As imagens produzidas nas procissões funerárias, nos diversos formatos de túmulos, nos epitáfios e no simbolismo da morte representado nos discursos filosóficos, produziram uma memória seletiva, digna de lembrança que, de fato, criavam um passado comum a ser incorporado à memória social. Sabemos, pois, que a construção dos monumentos de pedra em espaços mais visíveis possibilitava aos familiares e seus mortos a transmissão de sua memória que, incorporada à Res Publica, transformava, a partir dos epitáfios e da própria monumentalidade da tumba, em questão pública a história familiar. Em razão disso, os monumentos mortuários e a simbologia da morte, como produção de memória social, celebravam os sucessos familiares, a própria aristocracia e os sistemas de governo; portanto, nesse curso, proporemos a análise sobre as relações entre memória e morte no Mediterrâneo romano, uma vez que o conceito de memória é um dispositivo de poder vinculado à recriação no presente de imagens sobre o passado.