Alcilene Cavalcante de Oliveira

História, gênero e audiovisual: memórias em disputa no pós-ditadura (Brasil e Argentina? 1980-2020)

Este projeto de pesquisa (institucional) é um desdobramento de estudos anteriores sobre gênero e cinema do último período de transição democrática no Brasil e na Argentina (anos 1980). Se em projetos anteriores voltamo-nos, inicialmente, para a análise de filmes, de ficção, realizados por mulheres daqueles países, estendendo, depois, a análise para a realização cinematográfica de homens, embora restringindo a pesquisa espacialmente ao Brasil, neste projeto ampliamos o escopo das fontes da pesquisa para artefatos audiovisuais (filmes e séries), de ficção e documentais, realizados no Brasil e na Argentina no pós-ditadura, para esquadrinhar as representações de gênero e as encenações do passado presentes nessa produção cultural. Com isso, amplia-se ainda o recorte temporal da pesquisa, não nos restringindo mais a década de 1980, ao considerar que as historiografias brasileiras e argentinas, nos últimos anos, têm revisitado o período e constatado que questões caras à passagem de regime não se esgotaram ali. Destacam que elementos constitutivos de períodos de transição democrática como, por exemplo, relativos ao enfrentamento do passado de ditadura recente de cada país, que, por sua vez, implica a justiça de transição (o direito à memória e à verdade, à justiça e à reparação), continuaram a reverberar nas décadas seguintes (em destaque nas duas primeiras décadas do século XXI). Esse passado que custa a passar engendra representações, interpretações e embates de memória configurando disputas políticas no presente, o que tem sido detalhado pela literatura especializada. As produções audiovisuais, que circulam no espaço público (por meio de exibições e abordagens em circuitos culturais, nas mídias e nas escolas) e constituem fontes e objetos do ensino de História, de cada um desses países, configuram memórias culturais, entrando na seara de disputas sobre o passado. Que artefatos podem ser destacados para abordar tais questões? Que memórias constituem e como o fazem? Quais são suas estratégias estéticas? Que diálogos permitem realizar com a literatura de testemunho, com os documentos históricos e com os relatórios das Comissões da Verdade? Que relação é possível estabelecer entre os artefatos audiovisuais ? suas encenações ? e as historiografias de cada país? Qual é a recepção desses artefatos audiovisuais e das questões que engendram nas críticas especializadas (periódicos, mídia, blogs)? Que relação de aproximação e distanciamento há entre as produções audiovisuais do Brasil e da Argentina no período em questão, no que se refere à representação de gênero e às encenações do passado? Trata-se, pois, de indagações norteadoras desta pesquisa, que se insere na perspectiva da História cultural na interface com a História política e com a História do Tempo Presente. Parte de duas hipóteses interligadas, quais sejam: a produção audiovisual integra a dinâmica política do pós-ditadura, na qual a construção de sentidos sobre o passado adquire centralidade, constituindo memória cultural, e, do mesmo modo, dialoga com as questões suscitadas pelos feminismos, principalmente no que se refere às relações de gênero e de sexualidades..
Situação: Em andamento; Natureza: Pesquisa.

 

História e Gênero nas telas: cinematografias brasileiras do período de transição democrática (1974-1989)

Esta proposta de pesquisa consiste em analisar longas-metragens, de ficção, realizados no Brasil, no período de transição democrática, esquadrinhando os diálogos que tais artefatos culturais estabeleceram com as questões caras desse período, como o posicionamento sobre o passado recente de ditadura civil-militar, especialmente a violência política perpetrada em tal período. Além disso, busca-se destacar as relações de gênero engendradas nos filmes. Trata-se de uma abordagem que se insere na perspectiva da História cultural na interface com a História política. Parte de duas hipóteses interligadas, quais sejam: a produção cultural, especialmente filmes, integrou a dinâmica política do período de transição, na qual a construção de sentidos sobre o passado obteve centralidade e, do mesmo modo, dialogou com as questões caras ao feminismo, no período, principalmente no que se refere às relações de gênero. Considera-se, ainda, que filmes constituem "lugares de memória".